terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Grumete Assustadiço

O que mais detesto na actividade política é a ambiguidade, o oportunismo táctico, a falta de compromisso e a traição. Diz Costa Neves que “o PSD-A não concorda completamente com as soluções encontradas para regular as remunerações dos parlamentares regionais previstas na proposta de alteração do Estatuto”. Então porque é que aprovou e subscreveu esta proposta na Assembleia Regional?

De certeza que o CDS/PP e o PS não concordavam, inteiramente, com outras soluções que o PSD apresentou no âmbito da Revisão do Estatuto. No entanto, não os vejo a dar este espectáculo miserável de, à primeira contrariedade na opinião pública, trair a confiança dos outros parceiros políticos num documento que contou com a unanimidade de todos.

Diz ainda Costa Neves que “o PSD-A entende que as soluções encontradas pecam, em termos de transparência, porque recorrem, em demasia, a determinadas soluções que não são perfeitamente transparentes”.

Pior a emenda que o soneto. Se acha isso, por que razão o PSD aprovou, na Assembleia Regional “normas pouco transparentes”?

Tudo isto cheira a puro oportunismo político. O líder do PSD só passou a achar que as normas eram pouco transparentes depois da comunicação social as ter diabolizado.

A partir daí, como um qualquer grumete assustadiço, ensaiou o mergulho para fora do navio. Dizem que os ratos são sempre os primeiros a fugir dos navios em risco de submergir. Na política, cada um sabe com quem se quer parecer.

Nesta questão ficou bem patente o que se pode esperar de Costa Neves quando alguém ou os próprios órgãos do Partido estiverem em dificuldades. No meio da tempestade não olhem para o comandante. Nem ele, nem sequer a sua sombra lá estarão.

Quanto à substância da questão, nem falo. Seria fácil cavalgar a onda de descrédito do sistema político e, em particular, do Parlamento. Tenho a minha própria opinião, mas recuso a rendição incondicional à lógica perversa do populismo mais básico e cobarde.

Imagino a vergonha que o Grupo Parlamentar do PSD estará a sentir neste momento. O líder do Partido desautorizou-os publicamente e acusou-os de se beneficiarem economicamente com normas pouco transparentes.

Sim, porque, que eu saiba, não tinham nenhuma pistola apontada à cabeça quando votaram um documento que contém normas pouco transparentes. Nem fizeram qualquer declaração de voto a denunciar a coacção a que foram submetidos pelos outros grupos e representações parlamentares.

Enfim, tenho a impressão que Costa Neves desistiu de ser um líder político respeitável e responsável. Prefere representar o hollywoodesco papel de Robin Hood dos tempos modernos. O único problema que vejo, neste seu novo tique vocacional, é o pormenorzinho de começar, a novel carreira, justamente no seu laranjal. Não deveria ser no roseiral?

Uma última reflexão, de carácter filosófico. Se ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, quantos anos de perdão merece Costa Neves?

Por mim, tiro-o já deste purgatório político e dou-lhe toda a eternidade nos jardins terrenos do éden. Não é uma caridade desinteressada, mas sim uma manigância ditada pelo desespero de o ver arrastar toda a oposição para o fundo do brejo.