quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Perspectivas de Futuro para a Ilha do Corvo

Um dos dados do censo de 2001 que mais espantou os analistas foi o facto de a ilha do Corvo ser a única – com a excepção óbvia de São Miguel – que resistiu à verdadeira sangria demográfica que afectou, ao longo da década de noventa, as ilhas açorianas.

Os dados demográficos parciais que possuímos sobre a evolução demográfica dos últimos seis anos, permitem-nos concluir que o despovoamento de grande parte das ilhas açorianas continua a registar-se a um ritmo dramático.

O mesmo sucede na área económica. Nessas ilhas o investimento privado diminuiu extraordinariamente e o investimento público é residual, carecendo, para cúmulo, de uma perspectiva estratégica minimamente coerente.

Os próximos anos serão, certamente, dramáticos para muitas das nossas ilhas, na medida em que a perda de dimensão demográfica provocará, inevitavelmente, a contracção do mercado interno e de todos os indicadores que lhe podemos associar: emprego, investimento privado e público, acessibilidades, infra-estruturas, etc.

Neste processo é toda a pluralidade histórica e cultural da Região que está em causa. De acordo com algumas projecções, a ilha de São Miguel poderá concentrar – no curto espaço de duas décadas – cerca de 80% da população dos Açores. Com uma população desta dimensão será cada vez mais difícil, a qualquer Governo Regional, explicar à opinião pública investimentos de grande dimensão em ilhas decadentes e despovoadas.

A única opção que nos resta é enfrentar o problema com a urgência e o dramatismo que o mesmo efectivamente possui. É necessário concentrar, nestas ilhas, o essencial do investimento público, redireccionar fluxos turísticos e aplicar medidas excepcionais para fixar os jovens nas suas ilhas de origem

Neste difícil cenário para a coesão económica da Região, a ilha do Corvo logrou resistir e até aumentar a sua população. Esta excepcionalidade corvina tem, na minha opinião, três ordens de razões fundamentais:

1) A ilha do Corvo partia de valores extremamente baixos (é sempre mais fácil registar aumentos quando se parte de valores muito residuais). Desde finais do século XIX que a sua população vinha declinando de forma quase ininterrupta. Na década de oitenta do século XX atingiu os valores mais baixos da sua história (pouco mais de três centenas de habitantes). No âmbito deste cenário catastrófico, bastou ao Governo Regional a realização de algumas infra-estruturas básicas para alterar, significativamente, este quadro económico (construção da aerogare, da escola e o aumento do cais do Porto da Casa, por exemplo);


2) A localização de alguns serviços regionais e o aumento exponencial do quadro de pessoal da Câmara Municipal. Somados, estes dois factores permitiram absorver muita mão-de-obra local e garantir, a muitas famílias, um sustento fixo.

3) Finalmente, embora de forma algo mais marginal, os apoios dos fundos europeus à lavoura permitiram aumentar, significativamente, os rendimentos das famílias ligadas, inteira ou parcialmente, a esta actividade.

O grande desafio que se coloca actualmente à ilha do Corvo é o de continuar a crescer em circunstâncias que hoje parecem muito mais difíceis (uma Lei das finanças locais muito penalizadora, o decréscimo, muito significativo, do investimento público e a estagnação – em termos de oferta de emprego – da administração regional aqui localizada).

Neste quadro de análise, a resposta a este desafio parece evidente. É necessário iniciar um novo ciclo de investimentos em grandes infra-estruturas (agora também em áreas como o desporto, a cultura e o lazer), melhorar as acessibilidades, localizar mais serviços regionais, reforçar a eficácia e a capacidade de gestão dos órgãos de poder local e potenciar o crescimento das três grandes áreas económicas em que a ilha possui evidentes vantagens: turismo, lavoura e pesca.