sábado, 16 de fevereiro de 2008

A Votação Albanesa de Carlos César

Carlos César ganhou as directas do PS com 99,6% dos votos.

Confesso que só agora começo a compreender as razões que levaram Carlos César a não querer estar mais de 16 anos no poder.

É claro que Carlos César disse antes que só seria novamente candidato em circunstâncias muito especiais e – antes disso – também disse que mais de oito anos de exercício de poder não é muito bom para a democracia.

Assim, à primeira vista, pode parecer que Carlos César mentiu, mas, se observarmos com mais atenção, podemos compreender que esta atitude revela apenas um comovedor desprendimento e um sentido do dever muito aguçado.

A verdade é que Carlos César, com esta votação, acaba de demonstrar que não precisa, de facto, de mais tempo. Bastaram-lhe 12 “diminutos” anos de poder para bater, aos pontos, as grandes figuras internacionais de referência da esquerda.

Ainda há uns dias, a comunicação social noticiava a eleição de Fidel Castro, da seguinte forma: “ Fidel Alejandro Castro Ruz foi reeleito deputado da Assembleia Nacional pelo seu distrito, próximo a Santiago de Cuba. Obteve 98,3% dos votos válidos. Era o único candidato do Partido Comunista de Cuba.”

Ou seja, o nosso grande líder deu, literalmente, uma autêntica banhada ao Fidel Castro.

Rompeu a sempre difícil barreira psicológica dos 99% de votos e demonstrou ao Fidel que não é preciso ficar no poder até à senilidade para conquistar o pleno afecto dos camaradas do partido (sim porque às oito alminhas que não votaram sim deve ter-lhes acontecido a mesma coisa que ao Monteiro: a caneta recusou-se a escrever … é uma situação que sucede com muito mais frequência do que se possa pensar).

Contudo, sem querer diminuir o mérito de César – respeito o velho aforismo bíblico: a César o que é de César – acho que este resultado totalmente imprevisível tem qualquer coisa de milagroso.

Não consigo deixar de pensar que a recente conversão de Carlos César ao milagre dos pastorinhos teve algo a ver com o que sucedeu. Isto, no fundo, é tudo uma questão de fé.

Eu acredito que o Carlos César acredita que chegou a hora de fazer os outros acreditar que ele também acredita. Complicado? Então tomem lá uma chapelada de 99,6% para simplificar.