segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Xanana Gusmão e Ramos-Horta

Em política não existe gratidão ou reconhecimento. Mesmo os que logram chegar à categoria de pais das pátrias só conseguem manter esse reconhecimento em vida se, a partir de determinado momento, passarem a uma espécie de limbo ou estado vegetativo.

Recordem os casos de Winston Churchill ou de Charles de Gaulle. Ambos caíram em desgraça porque persistiram em manter-se politicamente activos depois de ter passado a conjuntura política em que prestaram relevantíssimos serviços aos seus respectivos países.

Vejam, também, o caso paradigmático de Sá Carneiro. Num curto período de tempo, o líder histórico do PPD/PSD enfrentou as maiores cisões partidárias da história desse partido. No entanto, hoje não existe sector do partido que não se reveja e produza abundante hagiografia sobre ele. A principal razão deste facto é que está morto.

Ao contrário, Mário Soares, ousou durar demasiado tempo. Por isso, o povo e o aparelho partidário decidiram despachá-lo, para a berma do sistema, com 17%. Eu acho que, só pelo momento da sua vida, o discurso da Fonte Luminosa, o homem merecia, para sempre, pelo menos 50%.

Aliás, devo confessar que votei nele, nas últimas eleições presidenciais, só para ficar bem com a história. Dentro de, não muito tempo – é a lei da vida – não faltarão hossanas ao velho político desaparecido. A primeira fila estará compacta com os velhos camaradas que nunca o abandonaram. O homem recuperará a unanimidade socialista e até pode vir a surgir um bom poema póstumo.

Xanana Gusmão e Ramos-Horta, os heróis da independência timorense, são mais dois casos que terminarão em tragédia se, pura simplesmente, continuarem vivos ou persistirem em manter-se na primeira linha da política timorense.

O panteão das lendas clama por eles. O povo não gosta de ver heróis de carne e osso. Parecem-se demasiado com os … humanos.

Foi por isso que os gregos inventaram, a par da democracia, o Olimpo. É esse o lugar dos mitos. Longe da vista e perto do coração. Uma vez distantes, invisíveis, misteriosos e herméticos, estes poderão vir a tornar-se, novamente, úteis.

Todos ficarão felizes. Os liliputianos do costume tomarão conta das minudências do quotidiano pós-épico e depois surgirão – é fatal como o destino – as inevitáveis pitonisas do regime.

As criaturas, a que aludo anteriormente, viverão da sempre lucrativa, mas duvidosa, ciência da adivinhação política da vontade dos totens da pátria (o Xanana teria feito assim, o Ramos-Horta pensava isto, etc.).

Digam lá! Isto não é melhor do que andar, a torto e a direito, a levar tiros? Por uma vez, dêem-me ouvidos. De vez quando, também acerto um prognóstico antes do final do jogo.