segunda-feira, 25 de agosto de 2008

“Sim, Nós Podemos”

Vivemos no auge do cesarismo açoriano, um regime musculado e não democrático que domina, através da coacção, da fraude e da esmola, grande parte da sociedade açoriana.

O regime tem um César viciado em vitórias absolutíssimas. Um verdadeiro semideus, de carácter muito susceptível.

Não lhe sendo possível pretender obter uma vitória de 99,9%, o objectivo eleitoral já avançado por César é a maioria absoluta e a vitória nas nove ilhas açorianas.

Para enfrentar a hegemonia desta verdadeira “União Nacional Açoriana” surgiram várias opções políticas.

O maior partido da oposição é uma espécie de nave espacial de ficção. O comandante da nave é uma espécie de Sr. Spock, um ser incapaz de transmitir a mais mínima das emoções. Possui, além disso, a incrível faculdade de adormecer – com um simples toque retórico – o mais exaltado dos iconófilos (excluo desta possibilidade o Paulo Ribeiro, verdadeiro porta-estandarte da militância mais acrítica e estalinista).

Para o ponto mais nevrálgico da nave social-democrata, o comandante designou a Berta Cabral, uma dirigente possuidora de um código de hibernação com o ponteiro apontado para o ano 2012.

No resto da nave viajam um grande número de seres exóticos: os dinossauros, os antigos jotas já entradotes, os invisíveis e os desesperados. Tudo isto junto deverá valer a maior derrota eleitoral de sempre ao PSD-Açores.

Quanto ao CDS/PP – alimentado à mão, ao longo de toda a legislatura, pelos socialistas com o neolítico propósito de o domesticar, a que se deve aliar a clássica preocupação estratégica de dividir para reinar (dividir a direita, entenda-se) – será de esperar a eleição, nem que seja só pela inércia, de dois deputados.

A CDU deverá regressar ao Parlamento através do círculo de compensação regional. Apesar das naturais diferenças ideológicas que me separam do Aníbal Pires, não me custa reconhecer no líder comunista uma grande capacidade de luta e uma coerência política impoluta.

O Bloco de Esquerda é, como bem afirmou o Guilherme Marinho (num momento até agora único de clarividência) “uma fraude política que vegeta entre a inexistência pública e a parasitagem às deslocações dos dirigentes nacionais à Região”. Faltam-lhe 700 votos, em relação a 2004, para elegerem um deputado (concorreram apenas em cinco círculos).

Estou em crer que apesar da “vadiagem” dos últimos 4 anos, a preguiça poderá ser recompensada com a eleição de uma deputada.

O PPM-Açores tem dois objectivos fundamentais: estragar a festa do pleno socialista nas nove ilhas ao emproado do César e meter uma lança em São Miguel.

Se, no fim de contas, não pudermos, ao menos poderemos dizer que sonhámos e tentámos. Já foi muito mais que muita gente que, vendo o carácter cada vez mais totalitário do poder socialista, não se atreveu a esboçar a menor resistência.

sábado, 2 de agosto de 2008

De Cócoras

Com meia nação faminta e a outra metade a passar férias no terraço, o Presidente da República achou que a coisa mais útil que podia fazer pelo país era dizer-lhe o quanto achava perigoso e transcendente ter de fazer 5 ou 6 audiências, em vez das duas ou três que faz actualmente, no âmbito dos assuntos açorianos.

Que saudades do Sampaio! Com ele, duas ou três rondas de dezenas de audiências – ao longo de alguns meses – nunca representariam nenhum problema (nem nenhuma solução, mas isso é outra questão).

Cerca de uma hora depois da intervenção do Chefe de Estado, o Vasco Cordeiro, em versão samurai, garantia que o PS só modificaria o articulado do estatuto considerado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional.

Para não deixar dúvidas a ninguém da heróica determinação do PS, o Vasquinho fez questão de dizer que falava – e que estava mandatado para esse efeito – em nome dos órgãos nacionais do PS.

Até aqui tudo bem. Reconheci, nesta declaração, o dedo, a mestria tutelar e o espírito rebelde do líder regional açoriano que, recentemente, afirmou que nunca se meteria de joelhos perante o poder nacional.

Eis senão que, passadas apenas algumas horas, o PS nacional disse que, afinal, o melhor era fazer a vontade ao Cavaco. Foi nessa altura que o Vasco e o heróico exército rosa regional se devem ter sentido “entalados”.

Perante a crueza das circunstâncias, o Vasco Cordeiro achou mais avisado despir a indumentária samurai e abandonar aquela ideia do martírio heróico, até porque o PS é um partido laico e republicado, facto que implica que o único paraíso à disposição do militante socialista é a terrenal construção do Sócrates e do César.

Com a honra e a dignidade que lhe possam restar depois deste episódio, o Vasco Cordeiro diz agora que o PS-Açores não criará uma crise nacional devido ao Estatuto.

Quanto ao Carlos César, ninguém o viu. Suspeito – é apenas um palpite – que de pé é que ele não deverá estar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Para os Açores, Rapidamente e em Força

Temos novela para o Verão. Aos estapafúrdios números de circo que o Costa Neves andava a debitar sobre o Estatuto, juntou-se agora o Presidente da República com uma dramática conferência de imprensa que paralisou o país político.

Tudo isto porque o Cavaco Silva decidiu “arranjar” o seu próprio Kosovo para exercitar o músculo patriótico. Vejam lá que os perigosos independentistas açorianos querem que o Presidente da República os oiça – e aos partidos representados na Assembleia Legislativa Regional – se o mesmo decidir dissolver o Parlamento Regional.

O magistrado supremo da nação não quer, no entanto, ouvir falar nestas minudências. Predispõem-se, somente, a escutar em Lisboa os representantes nacionais dos partidos. Quanto à clientela indígena que lhe querem impingir, remete-os para o meio do Atlântico.

Evidentemente que a autonomia regional dos partidos, que justifica a proibição de partidos especificamente regionais, não passa, segundo a percepção de Cavaco, de uma miragem para aquecer o brio dos nativos.

Ao Chefe de Estado também aborrece ter de vir a ouvir as opiniões dos dirigentes regionais a respeito dessa figura tipicamente colonial que é o Representante da República. Se os Açores são parte integrante do Estado por que razão a República precisa de ter um representante especial numa parcela do próprio Estado?

Para o Presidente da República, a questão vai mesmo mais longe. Não só quer ter o seu procônsul particular, como acha que não lhe deve ser feita a maldade de vir a ter de ouvir os indígenas cá do burgo quando o nomear.

No fundo, esta particular visão cavaquista é a “versão soft” dos loucos do João Jardim (para ser intelectualmente honesto, tenho de confessar que hesitei um pouco nesta linha de argumentação quando me lembrei do tipo do relógio de cozinha que o Monteiro “arranjou” na Madeira, mas a verdade é que este tipo de azares também acontecem em Matosinhos, Gondomar, Penalva do Castelo ou em Felgueiras).

Quanto à revisão do Estatuto, o Presidente acha que o Parlamento da República deve continuar com a tesourinha na mão para que o mesmo não fique “petrificado”.

Por falar em petrificado, não sei bem como se deverá chamar a um Presidente da República que confunde a Assembleia da República com a Assembleia Nacional, o Dia de Portugal com o Dia da Raça e uma Região Autónoma com uma Colónia, mas, para não ser acusado de plágio, opto pela expressão “congelado e fora da validade”.