sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A Reconfiguração do Sistema Partidário Açoriano


A nova lei eleitoral sepultou o sistema bipartidário açoriano. Não tenho dúvidas que os estrategas do PS-Açores foram surpreendidos pela dimensão da mudança. Esperavam provocar danos profundos ao PSD – projectando, à direita, o crescimento do CDS-PP –, sendo que à esquerda apenas concebiam o regresso ao Parlamento de um PCP limitado a uma representação singular.

As últimas eleições demonstraram quão enganados estavam os aprendizes de feiticeiro do partido socialista. Mesmo um líder tão carismático como o Carlos César - veterano de tantas batalhas políticas e o último sobrevivente da primeira geração de grandes parlamentares açorianos desta autonomia – teve uma enorme dificuldade em conseguir a actual maioria absoluta.

Estou convencido que nenhum político do PSD e do PS está em condições de vir a obter uma nova maioria absoluta no novo quadro eleitoral açoriano. Assim, as eleições de 2012 serão marcadas por um novo tipo de embate bipolar: o confronto tradicional entre a direita (PSD, CDS e PPM) e a esquerda (PS, BE e PCP).

A análise lógica do sistema eleitoral - e a experiência adquirida em actos eleitorais anteriores - demonstram que as coligações pré-eleitorais não trazem qualquer vantagem eleitoral numa Região em que os duelos políticos de ilha se jogam, muitas vezes, fora do estrito campo das fronteiras partidárias.

Nesse sentido, o lógico é que cada partido conquiste, isoladamente, a sua própria representação parlamentar. A vitória de cada um dos campos políticos será definida pela dimensão, menor ou maior, da soma das direitas e das esquerdas. Por tudo isto, considero que o ciclo de maiorias absolutas nos Açores – 8 em 9 possíveis, desde 1976 – chegou ao fim.

Por isso, não percebo a estratégia suicida seguida, actualmente, pelo PS-Açores. Nos primeiros dois meses de funcionamento do novo Parlamento conseguiram juntar toda a oposição de esquerda e de direita contra si. Teria sido lógico que tivessem feito aproximações à esquerda no debate do Programa do Governo. Não o fizeram! Teria sido lógico que tivessem fomentado plataformas de entendimento mínimo à esquerda em matérias como o Estatuto da Carreira Docente. Não o fizeram!

Então o que explica este posicionamento do PS? Balanço entre duas hipóteses: a primeira é que o PS acha que poderá obter uma nova maioria absoluta em 2012, mesmo enfrentando durante toda a legislatura a artilharia das 5 colinas da oposição; a segunda é que, pura e simplesmente, ainda não têm uma estratégia delineada para o novo contexto político.

Inclino-me para a segunda hipótese. O episódio da recusa de votação do Programa do Governo – um erro político colossal – demonstra que as coisas não estão a ser pensadas e articuladas no PS-Açores (o próprio líder parlamentar do PS referiu, no seu discurso, que votaria a favor do Programa do Governo, sendo claro que foi apanhado completamente de surpresa).

O que me intriga é o papel de Carlos César nesta conjuntura. Não lhe faço nenhum favor se considerar que é um político tacticamente muito evoluído e experiente. Então como se explica a sua passividade no actual contexto? O que está por detrás desta cortina de aparente desleixo e ausência?