sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Devolvendo o Veneno

(Imagem retirada do fôguetabraze)

A análise dos últimos 3 meses de actividade parlamentar permite concluir que o actual Presidente do Governo Regional pretende dinamitar o seu próprio processo de sucessão no seio do PS-Açores.

Ao contrário do que fez nas legislaturas anteriores, o César socialista faz questão de isolar politicamente o seu partido no Parlamento. O PS vota orgulhosamente só todos os diplomas e sofre um contínuo massacre em todas as discussões.

A posição do grupo parlamentar do PS chega a ser confrangedora. Algumas dezenas de homens e mulheres inteligentes são, permanentemente, obrigados a votar contra as suas convicções. Pode intuir-se – nas suas expressões de pesadelo – o desespero que lhes provoca o facto de terem de votar favoravelmente posições dogmáticas, sustentadas exclusivamente no capricho e na força de vontade do líder.

Dá pena ver homens e mulheres, outrora livres, abdicarem do livre-arbítrio e da independência do julgamento da razão em troca de uma obediência prussiana ao líder. Ainda por cima, o eterno líder socialista – no Parlamento desde 1980 – não possui outra fidelidade que não a si próprio. É alguém cujo comportamento táctico só tem uma premissa: a sua própria sobrevivência política.

Nestas circunstâncias, a questões essenciais são: o que fará o Carlos César após 2012 e que independência quer ele que o PS-Açores possa vir a ter do seu próprio projecto pessoal. Em 2012 Carlos César terá apenas 56 anos. Não é crível que abandone a política, pela simples razão que a política é a sua única e verdadeira profissão. Neste contexto resta-lhe a Assembleia da República ou o Governo da República.

O problema reside no timing político: não entrando na política nacional no actual ciclo político (2009-2013), só lhe resta aguardar a abertura do dique eleitoral em 2013. Temos, portanto, um período de cerca de um ano em que o actual líder não terá enquadramento institucional. Em política um ano é uma eternidade.

Nesse contexto, o que menos interessa ao Carlos César é a existência de uma liderança forte no PS-Açores em 2013. Ele quer ser - tendo em conta o seu interesse pessoal, que é a única variável que lhe interessa - o verdadeiro líder e referência do PS-Açores nesse período.

Penso que é esta linha de raciocínio que leva o Carlos César a empurrar o seu próprio partido para o precipício estratégico nesta legislatura. Por isso não divide para reinar, ao contrário do que foi sempre o seu hábito. Procura a solidão parlamentar do seu partido para continuar a, solitariamente, liderar o PS-Açores após 2012.

No final, a vitória de César será a derrota do PS. Nada disto é extraordinário. Os líderes egoístas não toleram sucessores. Veja-se o caso de Salazar. Fosse qual fosse o seu sucessor, o destino do regime estava selado. Ele fez da questão colonial a válvula de sobrevivência do regime. Sabia que esta acabaria por entupir, sendo que esperava que não fosse no seu tempo.

Para o Carlos César a questão é quase igual. A crise económica e o isolamento político transformarão o PS-Açores numa balbúrdia. Mas não será no seu tempo.

PS – Para o fim-de-semana tenho um oráculo reservado para o Dr. Bradford.