terça-feira, 5 de outubro de 2010

Temos apenas 36 anos de real democracia

"O líder nacional do Partido Popular Monárquico (PPM) e deputado o Parlamento Regional, Paulo Estevão, insurgiu-se ontem contra a forma como se está a transmitir às crianças, nas escolas, a História sobre o percurso da República em Portugal. A crítica surge na altura em que se comemoram os 100 anos da implantação da República no país.
De acordo com Paulo Estevão um exemplo é a exposição itinerante que está a percorrer as escolas do concelho da Praia da Vitória, que se intitula "100 Anos de República - Um Caminho para a Liberdade".
Na opinião de Paulo Estevão, este título é uma demonstração do que considera ser uma associação da República à democracia e à liberdade e da monarquia ao autoritarismo. "Sou professor de História e estou contra a forma como se publicita nas escolas a imagem da I República e do conjunto da República. Não corresponde à realidade que esse tenha sido um caminho feito de democracia e liberdade. Só o Estado Novo contribuiu com 48 anos de ditadura, se bem que entre 1926 e 1933 estejamos a falar de uma ditadura militar. Na prática temos apenas 36 anos de real democracia", justifica.
Quanto ao período da I República, Estevão é claro na sua posição: "De forma nenhuma podemos afirmar que até 1926 tivemos uma democracia. Se na altura da monarquia constitucional tínhamos 70 por cento da população masculina com poder de voto, depois, com a República, ficámos apenas com 30 por cento. Isto porque os critérios da lei eleitoral mudaram. Se antes eram os homens cabeça de casal e os alfabetizados a poder votar, depois da República encerrou-se o direito de voto apenas aos alfabetizados, ou seja, aos que sabiam ler e escrever".
Segundo o líder do PPM "o Partido Republicano tinha no seu programa o sufrágio universal, mas nunca o fez".
"As eleições eram completamente manipuladas e direitos como a liberdade de imprensa tornaram-se menores do que no tempo da monarquia constitucional", prossegue.
Do ponto de vista de Paulo Estevão, as escolas continuam a associar a República à democracia e a monarquia constitucional é apresentada quase como uma irmã gémea da absolutista.
"Temos países no topo da lista em termos de políticas humanas, de liberdade, de desenvolvimento, que são monarquias. É o caso da Suécia ou da Holanda, por exemplo. No período da monarquia constitucional havia em Portugal divisão de poderes, liberdade de imprensa, muitos elementos democráticos... Se tivéssemos continuado no regime monárquico, teríamos hoje um modelo próximo do da Espanha, o que não seria nada mau... Agora, existem repúblicas nada democráticas nos dias de hoje, como Cuba ou a Correia do Norte, como existem monarquias na mesma situação, como a Arábia Saudita. O que não podemos é associar a República definitivamente à liberdade e fazer o contrário com a monarquia, quando a democracia pode existir nos dois modelos", reitera.
Paulo Estevão sublinhou que a exposição que percorre as escolas da Praia é apenas um exemplo das comemorações que partem, no seu ponto de vista, de uma construção falaciosa da realidade. "O nosso partido irá chamando a atenção para a forma como estamos a transmitir a História às crianças e não só", conclui."
In Diário Insular