quinta-feira, 2 de abril de 2015

Artigo de Opinião: "A Geopolítica Açoriana e a Opção Chinesa"

Os Açores e a sua enorme área de jurisdição marítima, sem potências com direitos de jurisdição conflituantes na nossa fronteira, representam, na atualidade, a derradeira âncora de sobrevivência geopolítica do país enquanto Estado relevante na comunidade internacional. Os Açores tornaram possível o tal país dos 4 milhões de km2, cerca de metade da área do Brasil Sem os Açores, o país nem sequer teria um papel regional a desempenhar. Sem o horizonte a perder de vista que os Açores representam para o futuro, Portugal teria muito mais dificuldade em libertar-se das dinâmicas políticas e estratégicas meramente peninsulares.  
O outro ator que está associado ao potencial geopolítico dos Açores é sempre a potência naval e atlântica dominante, papel que nos nossos dias é desempenhado pelos Estados Unidos. Aos Estados Unidos interessa manter uma presença militar permanente. Não podem permitir-se o luxo de sair em definitivo. Na geopolítica não existem vazios. Um poder em retirada é sempre substituído por outra potência. Também não existem acasos na diplomacia externa, muito menos na cuidadosa e muito planificada política externa chinesa. 
Quando uma potência como a China realiza, num tão curto espaço de tempo, duas visitas de altíssimo nível a um território como os Açores, a conclusão que se deve retirar é que os Açores interessam geopoliticamente à China, por razões evidentes. Têm enormes interesses em África e já perceberam que é difícil assegurar seja o que for numa região tão instável politicamente. Os Açores têm todas as condições para servirem de plataforma de projeção militar na África Ocidental e também de grande entreposto comercial no espaço atlântico.
No curto espaço de 20 anos, a China passará a ser o maior importador do petróleo do Médio Oriente e passará, também, a ser a potência que terá mais a perder com uma eventual destabilização da zona. Interessa-lhe, por isso, ter mecanismos de projeção de poder militar na zona. O problema é que não é fácil fazê-lo a partir do Índico. A Índia, potência rival, não tolerará a instalação de bases chinesas a oeste do seu território. O Corno de África é quase ingerível e a China também não tem a possibilidade de contar com um território como Diego Garcia. Neste contexto, os Açores representam uma hipótese sólida para construir uma plataforma de intervenção logística.
Por fim, é preciso ter em conta que os americanos possuem a jurisdição de territórios insulares do Pacífico muito próximos da costa chinesa, pelo que a China veria com muitos bons olhos a criação de um cenário simétrico junto da costa atlântica dos Estados Unidos. 
Nestas circunstâncias, temos vindo a defender que os americanos devem escolher um de dois cenários: ou ficam nas Lajes com uma presença militar significativa e com contrapartidas reais para os Açores ou então não ficam de todo. A manutenção de uma base militar adormecida, praticamente a custo zero, não é aceitável para os Açores. 
Estamos absolutamente convencidos que é do interesse dos Estados Unidos ficar. A política externa do Presidente Obama está a revelar-se um completo desastre. O Leste europeu está em convulsão e o Médio Oriente em combustão absoluta. A curto prazo, a política externa norte-americana sofrerá, estamos absolutamente convencidos disso, alterações profundas, no sentido de se tornar mais reativa. Nessa conjuntura, a Base das Lajes constitui um ativo geopolítico incontornável. 
(publicado no jornal Açoriano Oriental de 28/07/2014)